terça-feira, 5 de novembro de 2013

Elogio ao FEIO #1


Post inspirado na peça "Feio" da companhia Palco 13, em exibição até ao final do mês de Novembro, no Auditório F. Lopes Graça/Parque Palmela, em Cascais. 

Por que é importante sermos bonitos? Parafraseando a minha amiga Jô, quem é que inventou que tinha de ser assim? Temos de ser assim, temos de fazer assado, temos de corresponder às expectativas, temos de ter a casa sempre arrumada, temos de estar sempre a produzir e a reproduzir e ainda a pós-produzir porque a coisa ainda não está certa. Quem é que inventou que tinha de ser assim, que a vida era isto e que o texto era este? 

É importante sermos bonitos, por dentro e por fora - e arredores! E agora a coisa ainda se torna pior porque, como a beleza vende de uma forma doida (e varrida), e anda meio mundo mal cotado no mercado porque não dá para todos, anda uma (menos) bela parte da população a reivindicar a importância da beleza interior. O que interessa é a beleza interior! Ora bolas, continuo a ter de ser bonita! E a trabalheira que isso dá! (até descobrir que a trabalheira na frase "ter de ser bonita" não está no "ser bonita" mas no "ter de"). Quem é que inventou os deveres e os teres de desta história?

Pois, fomos nós, nós todos, o sistema! Eu gosto de gente bonita e de paisagens bonitas e de coisas bonitas. Não gosto de feios, porcos e maus e depois também não gosto de uma data de coisas feias minhas e tuas e nossas. É assim. Gosto de ter tudo no sítio, mas, às muitas vezes, não tenho nada no tal sítio, esse que vem no programa. Conforme a sitiação. Mas quem sou eu para dizer que o menino é feio quando se porta mal? Quem sou eu para dizer que não interessas nem ao menino Jesus, o mais bonito dos bonitos? Quem és tu, Pai do Natal, para só presenteares os meninos bonitos, os que se portam bem? Quem escreveu o manual do bonito comportamento? Quem desenhou as caras bonitas e os corpos perfeitos?

Eu gosto de ser bonita, não gosto de ser feia. E gosto de coisas bonitas, os olhos também enchem a barriga. Mas hoje quero elogiar a minha parte feia! Sim, sou feia, e tu então ainda és mais feio se não me quiseres feia! (Digo-te já que isso não seria nada bonito!)

Bom, mas só sou bonita e/ou feia porque alguém inventou classificar-nos assim e que essa classificação teria repercussões em tudo o resto. A verdade é que é assim! Se alguém vier agora reinventar isto e decidir que o importante é SER e que nesta matéria devemos abster-nos de julgamentos, o que será que acontece?

Constituirá o sentido estético uma programação biológica do criador? Se calhar, é isso. O mais bonito é o que sobrevive, nem que isso resulte em dias em que tem de se fazer cara feia aos adversários. Pois é, também não sobrevive quem for bonito todos os dias!

Se apreendemos o mundo pelos sentidos, queremos o bonito. É legítimo. O feio incomoda. Perturba os ouvidos, fere as mãos e cega os olhos (se bem que não sei o que é que cega mais os olhos, se o feio se o bonito). Mas sem incómodos não mudamos de lugar e não chegamos a mais lado nenhum, senão este, o do concurso de beleza - world peace, :) e Y. Por outro lado, somos o todo e não as partes, mas também as partes. 

Por que é importante sermos bonitos? Comecemos pelo nariz, a parte mais saliente da cara...

Posto isto, não vou dizer se a peça é bonita ou feia. Vão ver!





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