quarta-feira, 5 de julho de 2017

Bicho do Mato



Sou um bocadinho. É a minha maior contradição. Gostar de pessoas e afetos e fugir da vida social é talvez a minha maior contradição. Quero acreditar que preciso de me isolar para recarregar baterias. Dou aulas, trabalho com pessoas, há mais de 15 anos. Se eu não gostasse de pessoas, tinha escolhido outra vida ou outra vida ter-me-ia escolhido. Quando era miúda, tinha vergonha e achava que não tinha nada de interessante para dizer. Depois de crescida, passou-me o sentimento de inferioridade e ficou um medo residual, uma memória qualquer perdida nas minhas células. A minha primeira casa não foi um colo, foi uma incubadora. Às vezes sinto que também eu me tornei numa incubadora de sonhos, dos meus sonhos. Comecei este texto uns meses antes do último post. Escondi-o. Hoje acho que, se me permito ser eu própria longe do que aparece, é mais fácil, mas, em contrapartida, o que somos só vale quando aparece, porque é quando se mostra que, verdadeiramente, se consegue abrir. Em liberdade. Mesmo com julgamentos, com invejas, com contradições, com diferenças assumidas, com igualdades exigidas, com receios partilhados, com duplos sentidos, com sentimentos e ressentimentos, com dúvidas mas mais perguntas, com certezas mas mais convicções. Não há diferenças de género nos sonhos ou na ambição, só há diferenças de género na permissão. Por enquanto. Ainda me lembro da expressão: "Cresce e aparece!" Porque às vezes os crescidos têm de aparecer, desbravar o mato ou subir a escada. E, se o parto for difícil, podemos sempre pensar que a vida está só a (re)começar. De outra forma, mas a (re)nascer. De outra forma, (re)aparecer.  


Workshop "Atelier dos Sentidos" por Tatiana S. e Natacha M. (no meu caso, com óleo essencial doTerra Bergamota)





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