sexta-feira, 28 de julho de 2017


Quis escrever quando se deu a tragédia de Pedrógão Grande. Quis escrever e escrevi mas não publiquei. Esperei. Sabia que era apenas o início do Verão, a estação que tanto aguardamos nos meses de Inverno. Será justo transformar o Verão num Inferno? Que todos os fogos nas terras se extingam, que todos os fogos dentro de nós nos transformem, que não haja mais más sortes... que Verão é de mergulho, não de entulho...

Como o fogo que arde para acordar a vida  
Agora sentida, sofrida na maior das medidas  
A morte, que sorte  
Arde que queima, sem dó ou piedade  
Qual idade?  Caminho torpe  
Que caminho? 
Feridas, rasgões, roubados tantos corações   
Arde que bate a vida que continua  
Ninguém se lembrou de a parar  
A tua  
Posso voltar?  
Atrás, tempo, que lento...  
Não faz sentido que tenham partido  
Ido, morrido, desaparecido 
Ainda cá estão, eles ainda cá estão  
Ainda cá estou? Diz-me que não.   
Que horror este terror  
Talvez estejamos vivos  
Talvez.   
Pensamento lento  
Leva-me, vento  
Talvez nos mantenhamos vivos.  
Talvez. 

Mas ficam os porquês. 








terça-feira, 25 de julho de 2017


És deusa perdida dentro de mim
Dou-te a minha mão, vamos até ao fim
Somos irmãs, amor-talismã
Chega de guerras de quem se julga pouco
Muito fortes somos neste mundo louco!

Sei o que sentes quando danças
Balanças os quadris, ris, sacodes as tranças
Num círculo de iguais somos mais
Vamos juntas construir lembranças
Um dia vão saber que, juntas, fomos só muito, muito crianças

Sim, conseguimos ser amor sem rancor
Mulheres da vida sem da vida ser
Mulheres coragem, outrora à margem
Vamos juntas pertencer
Ao maior círculo de amor que eles algum dia vão ver

Com energia, com força,
Dá-me a tua mão, mostra-me como conseguimos

Repara! Nós ainda não nos despedimos





domingo, 23 de julho de 2017


Mulher é tela colorida, esbatida ou garrida
Dá-lhe vento para voar e chuva para dançar
Não há medo que a derrube quando a coragem lhe chega
Sabe da força de subsistir, sabe da força de parir, criar, sonhar…

Mulher sabe do tempo que passou e vai passar
Mulher sabe do que há-de vir, ainda por definir

Às vezes sem certeza da sua beleza
Lá vai ela ser toda, quando ser metade é tristeza
Mulher, vem daí embalar, embarcar
Na aventura de sentir com tudo o que há para dar

Mulher é gente que embala o mundo
Por tanto saber que a vida é maior que a sua existência
Por tanto saber que sabedoria é amar sem prudência
Incondicional, animal
Ser mulher é instinto que o corpo reconhece
É nutrir de sonhos o corpo que aquece

De corpo inteiro, esvoaçante
De alma cheia, deslumbrante
A braços com o mundo, num suspiro profundo

Ele viajante, ela espírito dançante
Quando ele passa por ela, errante
Descobre rimas controversas
As mais belas notas dispersas
A braços com o mundo, no suspiro mais profundo.



Mais um ano, mais um espectáculo Arte Move com alguns textos CurAção e mais uma oportunidade para dançar! O mote era SER. E, mais que do ser, ser mulher! Foram estas as três mulheres em que me desdobrei este ano, em coreografias de Ângela Eckart e Débora Ávila, mulheres muito criativas e focadas, que me inspiraram a ir com tudo, este ano com noites mais bem dormidas e mais energia do que o ano passado. E um cabelo muito mais difícil de domar em palco! 





quinta-feira, 20 de julho de 2017



Camarins e palcos, 
histórias e realidades que se cruzam, 
crianças e adultos que crescem, 
que se formam e transformam,
vôos rasos e arriscados,  
memórias que se reproduzem 
e deixam descendência,  
para mais tarde recordar 
e para mais tarde voltar a voar.  
Aterra-se em segurança, 
trazendo esperança nas asas 
e sonhos em braços.  
Deixando rasto, pequenos traços.  
De artista. De conquista. 

segunda-feira, 17 de julho de 2017


- Brincar!
- Chatas!
- O quê??
- Sim, as crianças são chatas!
- Alegria!
- Faladoras!
- Dorminhocas!
- Divertidas, divertidas, divertidas!
- Chatas!
- Chatas já foi!
- Irritantes!
- Divertidas!
- Amorosas!
- Diferentes!
- Coloridas!
- Únicas!
- Loucas!
- Posso ir à casa de banho?


- Por muito que sejamos crianças, temos um bom coração e conseguiremos chegar mais longe!

(Turma Hip Hop Kids2 Arte Move)


Mas lutei por cada passo...*


A cada passo, a cada passo


Olho para trás


E penso no que faço


Estou a um passo, estou a um passo


E cada vez mais perto de chegar ao teu abraço


(Fotografias tiradas nos bastidores do espectáculo Arte Move "Ser... Criança", com direção artística de Paula Careto)

Pode ser que resulte
Pode ser que resulte


*"A cada passo" - ÁTOA

quarta-feira, 5 de julho de 2017



Sou um bocadinho. É a minha maior contradição. Gostar de pessoas e afetos e fugir da vida social é talvez a minha maior contradição. Quero acreditar que preciso de me isolar para recarregar baterias. Dou aulas, trabalho com pessoas, há mais de 15 anos. Se eu não gostasse de pessoas, tinha escolhido outra vida ou outra vida ter-me-ia escolhido. Quando era miúda, tinha vergonha e achava que não tinha nada de interessante para dizer. Depois de crescida, passou-me o sentimento de inferioridade e ficou um medo residual, uma memória qualquer perdida nas minhas células. A minha primeira casa não foi um colo, foi uma incubadora. Às vezes sinto que também eu me tornei numa incubadora de sonhos, dos meus sonhos. Comecei este texto uns meses antes do último post. Escondi-o. Hoje acho que, se me permito ser eu própria longe do que aparece, é mais fácil, mas, em contrapartida, o que somos só vale quando aparece, porque é quando se mostra que, verdadeiramente, se consegue abrir. Em liberdade. Mesmo com julgamentos, com invejas, com contradições, com diferenças assumidas, com igualdades exigidas, com receios partilhados, com duplos sentidos, com sentimentos e ressentimentos, com dúvidas mas mais perguntas, com certezas mas mais convicções. Não há diferenças de género nos sonhos ou na ambição, só há diferenças de género na permissão. Por enquanto. Ainda me lembro da expressão: "Cresce e aparece!" Porque às vezes os crescidos têm de aparecer, desbravar o mato ou subir a escada. E, se o parto for difícil, podemos sempre pensar que a vida está só a (re)começar. De outra forma, mas a (re)nascer. De outra forma, (re)aparecer.  


Workshop "Atelier dos Sentidos" por Tatiana S. e Natacha M. (no meu caso, com óleo essencial doTerra Bergamota)





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