quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014


Aos doentes oncológicos é-lhes concedido este atestado e podem utilizá-lo em multi-situações como o nome indica. A verdade é que me esqueço que o tenho, porque não me sinto incapaz ou portadora de deficiência alguma. Por outro lado, é verdade que a vida, quando tira, também dá. Se passei um ano de sofrimento com muitas horas de sala de espera acumuladas, por que não usufruir do direito de não estar nas salas de espera das repartições públicas nos próximos tempos?

Sinto-me um bocadinho impostora porque chego com todo um ar fresco e fofo e passo à frente de toda a gente (fiz isto depois de estar horas à espera porque não me lembrei do dito papel). Mostro o papel timidamente e fico com a consciência pesada perante as pessoas nas filas, mas acredito que o facto de ter a vida facilitada num país movido a papéis faz parte de uma sociedade inclusiva e reabilitante. E, sim, sou portadora de uma necessidade de reintegração sócio-profissional bem como afectivo-emocional.

Coincidência ou não, fui pedir o primeiro cartão do cidadão precisamente depois do meu processo de reciclagem que constituiu o ano de 2013. Bye-bye B.I., NIF, NISS e cartão de saúde, agora sou cidadã com cartão único. É tempo de integrar.

A título de curiosidade, a senhora perguntou-me se eu estava a fazer quimioterapia e decidiu não retirar as minhas impressões digitais que os tratamentos podem alterar. Até de pele mudamos. Renascida, reciclada, restaurada e, espero que, brevemente, reintegrada.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014


ººº Amo-te porque sou amor. Desejo-te porque eu sou desejo. Quero-te porque me quero. Quisera eu que durasses... ººº

ººº As coisas que perdemos na vida são as que mais queremos encontrar porque ninguém se lembraria de perder para não voltar a ganhar. ººº

ººº Se o meu coração falasse, esconder-me-ia durante uns tempos. Talvez deixasse uns fios de cabelo de fora ou fizesse uns sinais de fumo. Talvez. Quando se calasse. ººº

ººº A ansiedade mora-me algures entre o peito e a garganta. É indecisa. Não sabe se entrar se sair. Não sabe. Mas quer. ººº

ººº Parva é a pessoa que ama; triste a que não consegue amar. ººº

ººº Gostava de ti sem saber. Ninguém me disse. Tu eras diferente e eu não sabia (cor)responder-te. Gostava de ti de sem querer. Ninguém me disse. Gostava de mim ao pé de ti. Gostava de ti ao pé de mim. Mas não me disseste. E foste-te embora. ººº

ººº Não te insegures, muito menos te segures. ººº

ººº Qual península, estou rodeada de amor por todos os lados menos por um. Agarrada, portanto. ººº 

ººº Escrever sobre o amor é injusto. É ingrato. É cruel. Significa que não estamos a amar. ººº







segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014



E começam a chegar alguns produtos ainda da minha última viagem a Cabo Verde. Aqui está a reportagem que fizeram comigo e os KDM na véspera do meu regresso a Portugal e que foi transmitida na RTC (Rádio Televisão Caboverdiana), no Programa Revista:

http://videos.sapo.cv/VrjCqfMzYnn3UTPTTBp1

O video que aparece na reportagem, que já tinha publicado mas que volto a deixar aqui:


domingo, 23 de fevereiro de 2014


Sábado, 22 de Fevereiro de 2014

E assim cumpro praticamente um mês desafiante, em que recomecei a trabalhar, embora ainda seja a fazer substituições, em dois sítios distintos, no escritório da produção do festival Estoril Jazz e num estúdio de Pilates (58 aulas em 11 dias). Foram muitas horas de trabalho, menos de sono mas com o sono mais disciplinado e entendi que, seja qual e como for o meu futuro profissional, não posso des-curar:

1. sono e alimentação são uma base que não quero perder, mas difíceis de equilibrar na lufa-lufa;

2. energia para a vida pessoal é outro dos pilares de que não quero abdicar em prol da vida profissional;

3. tempo para dançar e fazer o que me dá prazer é fundamental para voltar com força para o trabalho e também não quero abdicar dele mais do que duas semanas;

4. não devo perder a noção dos meus limites e não devo ter medo de me fragilizar, embora não seja fácil lidar com a ideia de que, para os outros, qualquer coisa que tenha seja por conta de ainda me encontrar "debilitada" e não por ser uma pessoa normal que pode ter constipações, dores de cabeça e infecções comuns.

5. não perder o foco curação: blog, o trabalho como psicóloga e tudo o que preciso de fazer para o retomar, expressão das emoções, criatividade e acção.

Sexta-feira, 21 de Fevereiro de 2014


Pela primeira vez depois de ter saído do último internamento, em Maio de 2013, tive uma infecção e fui às urgências do IPO. Com alguns nervos à mistura, uma hora e meia de espera com a aflição de uma infecção urinária, cansaço depois de uma semana de trabalho e de outras preocupações/emoções mais, quando fui atendida, tinha a tensão a 14/10, quando o meu normal é 10/6. 

Entre simpatia da médica e boa disposição das enfermeiras, percebi que sorte que é poder estar doente com mazelas comuns, de mulher e que não implicam soros, catéteres e internamentos! Antes de qualquer medicação, já estava melhor e vim para casa com a receita para aviar na farmácia dos comuns mortais. 

Já me sinto tão desidentificada com aquele filme dos carrinhos na mão, dos sacos pendurados e dos familiares em lágrimas, que saí de lá descansada e com a certeza de que ali sou bem recebida e tratada e que é melhor ter aquele acompanhamento, com articulação com a minha médica assistente, do que ir para o Hospital de Cascais e ser atendida por um profissional que não sabe nada de mim. 

E vim para casa descansar, fazer a medicação - apesar de acreditar em vias alternativas de tratamento, escolhi acabar com as dores e o desconforto - e fazer o TPC: pensar no que me desequilibrou o sistema físico-emocional nas últimas semanas para poder continuar no caminho da cura. À parte o nível de toxicidade que ainda tenho no corpo decorrente dos tratamentos, tenho dificuldade em assumir fragilidades emocionais perante mim mesma e os outros e o corpo é que paga. É isto. 

Quarta-feira, 19 de Fevereiro de 2014

Hoje foi noite de escrita e da primeira participação no Campeonato de escrita criativa. Não tenho autorização para partilhar, mas gostei do exercício. Independentemente do resultado e da pontuação, no meio da aflição de uma infecção urinária, escrever acalmou-me os pensamentos, os sentimentos e as sensações. Escrever é para mim curação. Os outros gostarem e se inspirarem é bonus track. Encontrem a actividade que vos permita encontrar-se com a vossa paz nos momentos em que a perdem de vista. Ela está lá. Só a perderam da vista.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Terça-feira, 18 de Fevereiro de 2014

Comecei o dia ainda inspirada mas termino-o com sintomas de infecção urinária. No último mês recomecei a trabalhar e a dançar e, no regresso à vida activa, já tive uma constipação, uma enxaqueca e agora uma infecção urinária. Porque não é justo que curação sejam só esperanças, corações e sucessos, é tempo de fazer o trabalho de casa e entender o que o corpo me está a querer dizer depois de 6 meses em estado de graça, durante os quais nenhum bicho me pegou. E o que é isso que o povo chama de vida activa e que quero eu alcançar?

(vale a pena ler e reflectir)

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Sábado, 15 de Fevereiro de 2014



Vinha eu ontem do IPO, quando na estação de metro da Baixa-Chiado me desafiam - a PT BlueStation - para declamar estes versos. Mas podiam ter-me dado uns mais alegres no dia dos Namorados, não confiasse eu nas sincronias do universo e entendesse as linhas com que me presenteia.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Hoje, para além de trabalhar e de 'namorar' com os meus alunos, fui namorar com a Dra. F. no IPO. Troquei a hora da consulta,  cheguei 5 horas depois e foi o dia em que fiquei despachada mais depressa.  Nada acontece por acaso. Fui na hora que devia ir. Tudo fluiu e as minhas análises estão "óptimas". É normal que ainda me ressinta dos efeitos da quimio, diz a médica, "por dois anos, e algumas coisas podem ficar para sempre". A forma como me fala hoje de números e estatísticas é um bocadinho diferente da forma como o fez em tempos.  Números são números,  eu sou uma pessoa. Números são relativos,  eu sou absoluta,  se me permitem. O que fica para sempre é a certeza de que a cura se constrói todos os dias, assim como amor, assim como a vida. Hoje namorei-me e espero continuar a namorar-me todos os dias. Até um presente me ofereci. Estou apaixonada pela ideia de viver. E o homem da minha vida há de estar já montado no seu lindo cavalo, a trote. Mas é capaz de não saber ao que vem. Ou ao que vai. Entre vais e vens, cá estamos. Para o que der e vier.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Mais um desafio curação em que me meto. Inscrevi-me neste campeonato,  organizado pelo escritor Pedro Chagas Freitas e já recebi o desafio da primeira jornada. O prémio é a publicação de um livro. Tendo em conta de que gosto de escrever e que um dos pilares da minha cura é a criatividade,  por que não? Por enquanto, não me é permitido publicar nada relacionado com o campeonato mas depois dou notícias.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Apontamentos reflexivos sobre o cancro e sobre o desenvolvimento de células cancerígenas...



"As células eram boas e transformaram-se em más." Em que circunstâncias os bons da fita se transformam em maus? Em que contexto os bons se juntam aos maus desistindo daquilo que sempre defenderam? Haverá algum processo de desistência, de desamparo aprendido, de vitimização, na base do comportamento das células que mudaram de team e começaram a multiplicar-se anormalmente? Será que perderam a sua força a determinada altura? Qual será a melhor opção: combater e aniquilar as células convertidas/traidoras ou empoderar as células boas?

Traçando um paralelo entre funções fisiológicas e psicológicas, a mim interessa-me o desempoderamento das células boas e o desempoderamento da pessoa em causa, na sua vida. Que capacidade tem esta pessoa de se manter fiel a si própria? Quantas vezes abdicamos do que é importante para nós em prol do que é importante para os outros?

Por outro lado, será que se dá uma perda de poder ou, pelo contrário, há uma verdadeira revolução que se dá pela força, mas uma força agressiva e não assertiva? Os bons estão cansados de ser bons e partem para a chamada "ignorância". De repente ganham o poder que não conseguiram obter de outra forma. Pela força. Não do bem, mas do mal. De que forma trazemos consciência a essa ignorância?

É talvez necessário regredir até a formas de pensamento mais arcaicas ou a formas de comportamento celular primitivas para entendermos estes mecanismos.

A mim como psicóloga, interessa-me empoderar o doente, aumentando os seus recursos bons, transformadores, construtivos e não tanto combativos, embora seja sempre conveniente manter o espírito de luta bem desperto, mas que no fundo é inerente ao estar vivo, por si só. Ou seja, não acredito que a solução seja combater o mal, embora entenda a opção de responder à violência das células doentes com violência. Nalgumas situações esta abordagem poderá ser suficiente e poderá ser a linguagem reconhecida. Mas continuo a preferir o reforço da parte saudável, o foco na saúde e não tanto na doença.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Sábado, 8 de Fevereiro de 2014


Hoje foi mais um dia de formação, em que não aprendi nada de novo em relação ao cancro, mas pude reflectir um bocadinho mais sobre a forma como o interpretamos e enriquecer a minha experiência pela partilha das histórias que ouvi. Cada vez fico mais certa da importância da curação, como cura do coração no processo de doença. 



sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014


Um amuleto é um objecto que transportamos connosco acreditando que nos traz protecção contra influências negativas, má sorte, doenças... Se um amuleto traz consigo características naturais de protecção, um talismã já necessita de um ritual de consagração que lhe atribua essas mesmas características (dizem as minhas pesquisas no google). Quer isso dizer que, a partir de hoje, transporto este talismã comigo. Não só pela sorte que acredito que a pessoa que mo deu me pode trazer, como pelas palavras e pozinhos mágicos que a mesma proferiu, carregando este mickey de toda uma intenção e responsabilidade. Bichos maus que andam para aí a pôr as pessoas - e principalmente as crianças - doentes, ponham-se a pau, porque os vossos dias estão contados! Do alto dos seus 5 anos, a bruxinha falou e disse. E eu assinei por baixo.

Por que os rituais podem ser importantes? Um ritual ajuda-nos a materializar uma intenção, uma energia e um foco em determinada direcção. E a manter viva essa mesma intenção.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014


Não sei qual destes dois intervenientes gosto mais, mas deixo aqui duas inspirações, uma pelo trabalho e outra pela naturalidade. Este é um vídeo de um ensaio nos estúdios da companhia de dança caboverdiana Raiz di Polon, na Praia, que fiz quando lá estive há dois meses. Quanto a mim, por cá, foi-se a constipação e voltei às aulas de dança.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014


Dizem que quem espera desespera. Hoje digo que quem desespera espera. Há alguma mensagem subliminar na ansiedade a que o universo responde com situações que nos fazem esperar. E quanto menos queremos esperar e quanto mais depressa nos queremos despachar de uma situação, mais esperamos para não fugirmos ao confronto. O que acontece enquanto se espera? Temos tempo para reflectir, rever e reavaliar exactamente o que estamos a esperar, ainda que impacientes. E o tempo obriga-nos necessariamente a procurar a virtude da paciência. Se a descobrimos ou não, é outra coisa...

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014



Quem passa por uma experiência transformadora tem a mania de que nada pode voltar a ser o mesmo e até é comum ouvir da parte dos outros, com uma pontinha de inveja na voz, que gozamos de uma iluminação e de um poder pessoal que não é para todos – para eles, portanto. Mas, quando a vida volta, volta o mesmo, velhos padrões, velhos medos, velhos sonhos, velhos egos, velhos inconscientes, velhos EUS. Qual é a diferença? A capacidade, a competência, a aptidão e a apetência de transformar. Se tenho a oportunidade de repetir, então que seja para fazer melhor no presente. Às vezes consegue-se, outras vezes não. No meu caso, o que muda com o avançar dos anos é sempre o nível de consciência de mim e, nesse sentido, não é preciso necessariamente um evento catastrófico para me fazer avançar. Mas dá-se efectiva e necessariamente um salto de gigante. O passo talvez seja proporcional à experiência.

sábado, 1 de fevereiro de 2014


Depois de um cancro, qualquer sintoma ou qualquer falha do sistema-corpo nos reporta para a condição de doente crónico-não-curado, com todo o manancial de crenças, medos e expectativas a serem accionados assim que a luz vermelha acende. O alarido chega a ser tão grande que nos esquecemos de que qualquer comum mortal tem as suas doencinhas e maleitazinhas de estimação. O “inhas” é mesmo de desdém. Pffff! Posso ter uma constipAçãozinha em paz? Não… Não há paz quando se está vivo, só mesmo a paz de estar vivo.

O ano curação é assim. Assume-se a cura como o amor pela vida mas, como qualquer amor, não é adquirido e tem de ser regado todos os dias. Se me descuro, o corpo volta a entrar em alerta. Tenho descurado alimentação e horas de sono reparador, em prol de muita acção nos entretantos, mas rapidamente chega o alerta para não perder a base. Não descurar no ano da cura. A mensagem para vocês é não descurar os sinais e os limites. Take care

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