segunda-feira, 30 de setembro de 2013


Inicialmente esta sessão fotográfica, realizada no dia 29/06, estava prevista para um jardim e/ou uma praia, mas por falta de tempo, acabámos por decidir fazê-la à porta de casa, até porque tratar-se-ia apenas de um ensaio para explorar a ideia da pintura craniana, embora eu tivesse alertado para o facto de não voltarem a contar com a minha careca, porque seria a última vez que me veriam assim. (E até agora foi.)

O bom de ter amigas que pensam fora da caixa é que alinham nestas maluquices comigo. E por que não à porta de casa? E por que não com os vizinhos a passarem ao lado? Sim, sou a vizinha do lado. Pode acontecer a qualquer vizinho do lado.

No final ainda fui ao teatro no Parque Marechal Carmona, em Cascais, ver a peça "Soldado Fanfarrão" da Palco Treze. E diz assim a minha querida mãe "Vais assim?!" E fui. Um tempo espetacular, uma brisa na careca, sem lenços nem perucas, umas boas gargalhadas no teatro, boa companhia. Liberdade.

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Fotografia e pintura corporal: Maçaroca Educação & Design - Cindy Baptista
Make Up: Makeup By Me - Marta Moura


"Soldado Fanfarrão" Foto Palco Treze

domingo, 29 de setembro de 2013


A certa altura deste campeonato, com a mobilidade reduzida e sendo a dança a minha atividade de eleição, resolvi que era uma boa ideia desenvolver os meus dotes musicais, adquirindo uma viola. A febre não durou muito tempo, mas a Mariana achou que o "Good Riddance" dos Green Day seria uma boa/fácil canção para eu aprender. Durante uns dias não se ouvia outra coisa cá em casa. Não fosse a letra assim e diria que o universo - ou a Mariana - se distraíra:

Another turning point, a fork stuck in the road

Time grabs you by the wrist and directs you where to go

So make the best of this test and don't ask why

It's not a question but a lesson learned in time

It's something unpredictable but in the end is right

I hope you have the time of your life


Imprevisível mas está tudo certo...

sábado, 28 de setembro de 2013

"Via agora com clareza a verdadeira essência da condição humana no seu estado mais puro: na total e completa solidão. (...) Sozinho com o seu medo, porém, foi tomado por uma certa excitação. O que seria aquilo? Se não era masoquismo, só podia ser coragem." (Guilherme Fiuza no livro "Giane")


Confesso que quando ouvi o Reynaldo Gianecchini a primeira vez em entrevista pintando tudo tão cor-de-rosa, achei tudo muito... cor-de-rosa. Ninguém que está preso por um fiozinho ténue duas vezes, nos cuidados intensivos, pode ser imune à dor, física e psicológica - dor é dor! Mas a verdade é que a imunidade à dor tem outros contornos, a paleta de cores é diversa e o cor-de-rosa faz mesmo parte. A dor existe, mas não se sobrepõe ao amor, à paz de espírito, ao renascimento e à oportunidade que ficam quando a dor se vai embora, esgotada na sua existência, sem novas edições, porque já não há quem a compre. Não me canso de dizer que é uma escolha.

O livro "Giane" não é sobre cancro, é uma biografia de uma pessoa que se cruzou com um mestre chamado cancro, a certa altura da sua vida, e que ganhou mais uma ficha para o carroussel dos felizes.  

Ler, saber, conversar e ouvir testemunhos é reconfortante. Mesmo quando nos deparamos nas pesquisas, ouvimos histórias ou conhecemos "colegas" que entretanto morreram, todas as experiências nos ajudam a situar; no meu caso, as outras histórias reforçaram a minha posição perante a doença: responsabilidade, escolhas e ação. 

Entretanto, estava eu a ler o livro do Gianecchini e a ocorrer-me nas entrelinhas as tantas 
coisas que lhe podia dizer... Era bom poder trocar com ele os cromos desta caderneta da vida, mas seria uma no meio da multidão, pensava eu. Estava quase no fim do livro, quando decido voltar ao início. Abro a capa e voilá... um abraço do Giane!



 Livro autografado por Guilherme Fiuza, o autor, e Reynaldo Gianecchini e dedicado ao Jefferson


Qual a probabilidade de irem à Fnac - neste caso a minha querida prima - comprar um livro e trazerem um que foi "abraçado" pelos autores, autografado, para vir parar às minhas mãos, estando eu a passar por um processo semelhante? Afinal não sou mais uma no meio da multidão. 

Um abraço do Giane! Não é preciso mais. Já lhe disse tudo o que tinha para lhe dizer e ele já me disse tudo o que tinha para dizer.


E, sim, é verdade que dar um pontapé no medo pode ser muito excitante. "Estava pronto para a travessia - para qualquer uma."

sexta-feira, 27 de setembro de 2013


Uma das vantagens de estar doente é a aproximação entre as pessoas. No meu caso, a doença trouxe-me a separação e a reaproximação, separação das pessoas que fizeram o meu ano de 2012 e reaproximação a pessoas que fizeram parte dos 32 primeiros anos da minha vida. Indiretamente, aproxima também essas mesmas pessoas entre elas e até outras que não conhecemos mas a quem a nossa história chega.

No dia 2 de Dezembro de 2012, depois de um ano e quinze dias em Cabo Verde, fui obrigada a viajar sem pré-aviso da Praia para Lisboa, de Lisboa para Cascais e de Cascais para o hospital. Tudo no mesmo dia. Para trás ficaram as sementinhas, espalhadas por todos os terrenos em que plantei, sem saber que não ia poder acompanhar o seu crescimento. E ficaram amigos. E os amigos não conhecem fronteiras. São alguns. Uns usaram o avião para me visitar e outros usaram a imaginação. Fotografias, textos, vídeos, desenhos, música, dança... E este post hoje é para estes últimos, os artísticos além-fronteiras que não puderam marcar presença no IPO, o Bruno, a Sära, o Marcos, os KDM... E todos os meus meninos, miúdos e graúdos, que me desejaram as melhoras no meu natal dos hospitais, porque todos são - um bocadinho ou muito - artísticos...

Recordo o dia 8 de Fevereiro de 2013, o momento em que estava na cama do hospital a olhar para o relógio à hora do 1º espetáculo KDM, associação e companhia de danças urbanas Kriol Dance Movement, das quais eu fazia parte, sabendo que eu estava de outra forma, com o coração, mas também sob a forma como escolheram representar-me. Lá na cidade da Praia, no Auditório Nacional. Num vídeo que passou durante o espetáculo e no corpo do Marcos que recriou a minha performance do casting em que participei, no dia 13 de Outubro de 2012. "What's love got to do with it?" dizia a música... Tudo... Porque só o amor permite estas magias. (E a imaginação do Djam, presidente do KDM!)

Hélio e Marcos "Rogo" a cortarem o cabelo em palco durante o espetáculo "AKTUS"

Por falar em pessoas que nos adivinham - dizia eu no post de ontem - os artísticos são aqueles que nos adivinham sem palavras. A vantagem de ter amigos artísticos é que a sua sensibilidade comunica com a nossa, sem ordem ou conjugação. E é aqui que só conta a intenção, porque o resto acontece sozinho. Se eu pedir ao Bruno "Djam" para dançar a minha dor, sai isto; se eu pedir à Sära para cantar "because we all have scuffed knees and need a band-aid sometimes", sai isto e se eu precisar de uma força extra, sai isto:

Pedro, Sílvia, António e Sära, praia di mar de Quebra Canela, Praia

Mas onde é que está a maior arte nisto? É que não é preciso pedir, dizer ou explicar. Os artísticos traduzem tudo de coração para coração, utilizando a sua melhor forma de expressão. De repente sabem. Já lá estão. Não fazem ideia de como é, mas sentem. Não fazem ideia de como sabem, mas sabem. Não é preciso desdobrarem-se em palavras. "É simbólico." "O que conta é a intenção." Mas, afinal, todos os amigos são um bocadinho artísticos... ou não?

Não posso postar todas os movimentos artísticos que contribuíram para a minha cura, nem nomear todos os amigos, mas estão todos bem guardadinhos. O que conta é a intenção. Este post também é representativo e simbólico e vai direitinho ao vosso coração, mesmo que não o saibam. É o meu lado artístico... E dizem os da "alma cara" que "o amor é mágico"... e eu acrescento que cura...

quinta-feira, 26 de setembro de 2013


Sabemos que temos amigos quando eles nos adivinham. Chegam até ao ponto de quererem para nós o que desejam para si mesmos. Depois vão deixando pegadas à nossa volta para que todos saibam que estamos bem protegidos. E assim nos livram do mal. Amén.

 A capa da minha agenda. Agenda em latim, se bem me lembro, significa as coisas que devemos fazer. 

Dia de arrumações no quarto, no último internamento (Maio 2013) porque não era costume ter a mesinha de cabeceira tão arrumadinha :)

Como estes miminhos são todos da mesma pessoa, ela já sabe para quem é este post!

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A macrobiótica não é uma dieta, apesar de a prática alimentar ser transversal à sua filosofia. Tampouco existem alimentos proibidos, simplesmente alimentos que são mais ou menos aconselháveis segundo as diferentes condições de vida e objectivos pessoais. Dum ponto de vista alimentar, a ideia subjacente é de que o ser humano tem características e necessidades biológicas específicas e os cereais, vegetais e leguminosas satisfazem essas características básicas, não sendo no entanto a base exclusiva da alimentação.
Para mim, no entanto, o objectivo da prática é o desenvolvimento da consciência humana e capacidade de vivermos plenamente a vida diária em todas as suas vertentes: biológica, emocional, intelectual, social/ambiental e espiritual.
A responsabilidade pessoal é uma premissa essencial: somos os criadores da nossa vida através das escolhas que realizamos diariamente, escolhas essas que acabam por influenciar inexoravelmente a comunidade que nos rodeia e todo o Mundo em que vivemos.
Viver com compaixão, considerando o efeito que os nossos actos têm no Mundo à volta é inequivocamente uma das formas de obter uma Grande (Macro) Vida (Bio).
Francisco Varatojo

Não só fui a uma consulta com o Francisco, como frequentei um workshop de iniciação à Culinária Macrobiótica no Instituto Macrobiótico de Portugal, no Chiado, com o chef Marco Fonseca, oferecido por uma grande amiga. Se só faço alimentação macrobiótica? Não, mas utilizo muitos dos princípios e principalmente abuso dos cereais integrais, em vez de pão, massas e doces. E não quero outra coisa!
No que diz respeito à alimentação, há muitas dietas disponíveis no mercado da nutrição e vários protocolos alimentares para enfrentar doenças ou manter um estado saudável. Na minha opinião, não há a certa. Acho que há princípios em que estamos praticamente todos de acordo em relação ao que não nos faz bem, mas depois há variantes em cada uma delas e o mais importante é que se adapte à pessoa que a pratica. E que seja praticável, transportável para o dia-a-dia. 
O Francisco e o Marco venderam-me muito bem a Macrobiótica, não só pelo conteúdo do que transmitiram como pela forma como o fizeram, porque a forma está relacionada com a filosofia e a ciência por detrás do que escolhem comer. Há coerência e espaço para se ser criativo.
Numa fase de difíceis escolhas, porque foi a semana em que tive de decidir relativamente ao transplante e futuros tratamentos, foi uma semana muito divertida, em que a hora do curso era a hora em que me lembrava de como é bom ser normal e saudável, aproveitar os momentos e estar com pessoas fantásticas, e que era sobretudo essa a minha escolha. 
Com a minha amiga aprendi que a generosidade é um dom que nos assiste, mas que não vale se não lhe assistirmos, ou seja, ser generoso para os outros e não para si mesmo é batota. O workshop foi apenas para nós as duas, oferta dela.
Com o Marco, aprendi que é possível viver-se do que se gosta e gostar-se do que se vive. Aprendi o entusiasmo e a magia de estar em sintonia com o que se é. (E umas receitas!) Guardo duas frases tuas em contextos diferentes: "Não precisas disso." e "Vai correr tudo bem."

 Um dos menus: sopa de lentilhas, tofu mexido/cuscus com canela/legumes salteados e tarte de maçã

 Eu, o Marco e a Vanda, no último dia (2 de Julho de 2013)


Pequeno-almoço diário. Na foto, meu e da Dani, minha amiga futura ex-carequinha: 
Creme de arroz, cevada e aveia (em grão)



E tudo corre bem...

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Enquanto estava aqui num dilema ético sobre expor ou não o poema que se segue, descobri que a autora já tem vários publicados e faz todo o sentido neste contexto.

Durante o período de hibernamento, cruzei-me algumas vezes com a Z. (Dona Z., pela idade de avó, mas eu tenho alguns problemas com a utilização de pronomes de tratamento... gosto de nomes...) e recordo com carinho a sua primeira vez como doente naquela enfermaria. Como gosta de falar! Às vezes eu até tinha de pôr os olhos na tv ou no livro para descansar um bocadinho. Não era má vontade, mas tinha de poupar energias e manter reservas consideráveis para fazer frente a um inverno tão rigoroso (e não falo da chuva). Mas não gostava só de falar. Gostava sobretudo de escrever.

Se há dúvidas do poder de transformação do trabalho criativo, publico aqui um dos poemas que partilhou comigo Nasatimiso (pseud.), porque sei que a Z. é assim generosa e os foi distribuindo por médicos, visitantes, doentes e restante pessoal. E assim se transformam verdadeiros dilemas!

Fazer um poema!

É transcrever num papel
O que nos vem ao pensamento
Ou o que se está a sentir
Naquele próprio momento!
Mas...
Com palavras adequadas
De carinho e ternura
Fazem-se frases moldadas
Enchendo-as de beleza pura!
E assim...
Se vai transformando
Uma mensagem em poema
Dando carinho e amenizando
Um ou outro dilema!

Nasatimiso
7/7/00

segunda-feira, 23 de setembro de 2013


Com este espaço, pretendo partilhar o que me ajudou no encontro com a minha cura e as muitas ferramentas que temos à disposição. Lembrei-me desta ação hoje (é natural que haja conflitos e desacordos ortográficos por aqui. é assumido!) porque ouvi uma discussão acesa entre telespectadores e o Goucha e o Dr. Quintino Aires sobre ciência e esoterismo. "A ciência explica tudo. Tudo o que não é ciência não interessa" diz o Goucha e o Dr. Quintino assina por baixo, com algum medo de comprometer o seu profissionalismo. Por um lado, se a sua ciência é a psicologia, concordo com a sua rápida tradução de termos "esotéricos" (tanta coisa que metem dentro deste saco!) para a linguagem psicológica, porque é a que domina e nós devemos falar na língua que conhecemos para nos entenderem. Por outro lado, há um grande desconhecimento do trabalho científico feito no campo da dita espiritualidade. Bom, mas resumindo... Sou psicóloga, mas a minha ciência é a vida e com alguma facilidade mudo o chip para linguagens diferentes ou mais abrangentes, porque para mim todas as teorias e práticas sobre a vida, o universo, o corpo e o comportamento humanos são apenas interpretações. Pena que os egos transformem pontes em torres de babel... Ah e não há ciência sem experimentação. 

Uma das ferramentas a que recorri foi a Cura Reconectiva. Na palavras de Rute Dias Aguiã, facilitadora do método:

Esta é uma forma de cura que está no nosso planeta pela primeira vez. Reconecta-nos com a plenitude do Universo e, por consequência directa, com a plenitude do Ser que somos. Acredita-se que isto acontece graças a uma nova gama de frequências curativas e, muito provavelmente, devido a um campo de ondas totalmente novo cuja realidade se pode constatar claramente tanto durante as sessões como em laboratórios científicos. A Reconexão (Reconnection) é o processo abrangente de reconectar com o Universo, o que permite que aconteça a Cura Reconectiva (Reconnective Healing). Estas curas e frequências evolutivas pertencem a uma nova banda electromagnética e chegam-nos através de um espectro de luz e informação. Graças à Reconexão somos capazes de interactuar com estes novos níveis de luz e informação e, assim, reconectarmo-nos. Isto é algo novo. Isto é diferente. Isto é real – e pode ser tecido em cada um de nós.

Em termos práticos, precisava de calar todas as vozes que ecoavam dentro de mim e ouvir apenas a minha, mas sobretudo reconhecê-la como minha sem interferências. O medo, o discurso dos outros (com medo), os argumentos da dita ciência - que de certa tem pouco -, barulho, muito barulho. Alguma coisa não estava certa em todo esse ruído. Não era a minha voz. Era urgente calar tudo isto para poder sentir. Chamem-lhe universo, eu superior, deus, criança interior, coração, inconsciente, verdade... Uns dias depois da primeira sessão - fiz três - muitas ideias surgiram em catadupa, entre as quais o CurAção. Por isso este projeto vem lá do fundinho de mim. Não veio do barulho. Veio do silêncio. Aquele que é de ouro. 

Sei que tomei a decisão certa relativamente aos meus tratamentos, porque foi a minha e não foi a de mais ninguém. Em paz, depois da guerra. 

Se querem saber mais sobre "A Reconexão" e a "Cura Reconectiva", pesquisem o trabalho do Dr. Eric Pearl, que vem a Portugal no próximo mês de Outubro.

O pensamento científico pressupõe testar as hipóteses que colocamos e a ciência avança quando refutamos uma hipótese e colocamos uma nova. Ciência é aprendizagem. E eu também gosto de tudo explicadinho e de fundamentação científica (que o diga a Dra. F.!), não para fechar portas, mas para me abrir a novas hipóteses. Se TODO o conhecimento científico pudesse ser partilhado............

domingo, 22 de setembro de 2013


Há momentos na vida em que parece que levantamos vôo, nuns a sensação é muito boa, porque ficamos leves, a energia levita e de repente habitamos um jardim; noutros as sensações são tão más que parecem não encaixar no filme e na vida que continua a correr para os outros, mas desistiu de nós. E neste vôo o corpo perde as forças de tal forma que nem a gravidade lhe chega. Há dias em que sentimos "do chão não passo", porque afinal o que precisamos é de energias para nos levantar, esquecendo-nos de que podemos, sim, passar do chão, uns metros abaixo aliás! Mas, no meu filme, eu tive medo de passar do tecto! Alguém se preocupa com o tecto, a gravidade ao contrário? De repente, arrancaram-me os pés do chão e levaram-me para uma realidade paralela. "A vida não é assim, onde é que eu vim parar?"

Seja mais perto do chão ou mais perto do tecto, mais perto do céu ou mais perto do inferno, mais perto da paz ou mais perto da guerra, no limite queremos o meio, aquele onde a virtude se passeia, onde as qualidades convivem com os defeitos e onde o essencial convive com o acessório. É afinal por isso que os pés andam no chão e a cabeça nas nuvens. 50/50.

Nos momentos mais difíceis, os amigos e a família parecem crianças a passear com o seu balão de hélio nas mãos, autênticos fios condutores que nos mantêm ligados e não nos largam em momento algum. Ainda não.

Se perguntarem às enfermeiras e auxiliares do serviço de hematologia do IPO, vão saber que, mesmo cheia de fios daqueles para não voar, e tendo deixado a rita-mulher à porta do hospital, a rita-balão tinha sempre as suas unhas impecáveis, porque a mãe-balão nunca se distraía. E porque afinal o acessório também pode ser essencial, quando se trata de mais um fio que nos liga à vida. Não é de todo mau ser marioneta quando se tem as pessoas certas a agarrar nos fios.

Passados 5 meses, quando o sol voltou a brilhar de perto e o hospital passou a ser uma miragem, as unhas desfizeram-se todas de cansaço. Sabiam que já não eram... vitais.


Já descansaram o suficiente :)

sábado, 21 de setembro de 2013


Teste CurAção

1. (e única questão) O que é que uma pessoa faz quando volta à estaca 0?

a) Reclama a (in)justiça divina. Ninguém merece.
b) Faz previsões do futuro num contexto de crise económica: é impossível arranjar emprego neste país, quem vai dar emprego a uma pessoa incapacitada e afirmações baseadas em crenças semelhantes.
c) Olha para o 0 como precedente do 1, 2, 3, 4, 5... da quantidade de oportunidades que estão a chegar.
d) Aproveita as ofertas que se apresentam no mercado, as oportunidades de cruzar capacidades/competências e formação/emprego disponíveis.



Resultado: As respostas estão todas correctas e conduzem-nos a caminhos diferentes. Não vale responsabilizar os outros pelo caminho que se escolheu.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Com este título, podia falar de mim, mas sou suspeita para falar de mim... Especializada em técnicas expressivas aplicadas sobretudo num contexto educativo, utilizo as formas de expressão como ferramentas de auto-conhecimento e transformação, mas ainda fico mais entusiasmada quando descubro testemunhos vivos e apaixonados que dão provas do poder da linguagem simbólica. E diria mais: da articulação perfeita entre os dois hemisférios cerebrais para se dar o salto, na cura e na evolução pessoal. 


Esta é a história  da bailarina indiana Ananda Shankar Jayant, não "sobrevivente de cancro" (da mama), mas "conquistadora "do próprio cancro, pelas suas palavras. É um vídeo de cerca de 15 minutos, de dança, de comunicação, de expressão plástica, de expressão cultural e de uma escolha: sintonizar-se na dança e não no cancro. "A minha história é sobre o poder do pensamento/da mente, o poder do foco." Ananda escolheu que estação queria sintonizar e o cancro não estava nas hipóteses consideradas. 

Perdemos muito tempo a combater, a lutar contra o que achamos que representa uma ameaça, gastando energias fundamentais que devem ser canalizadas para a mudança que queremos ver nas nossas vidas. E isto não é só conversa para doentes oncológicos. Não vamos lutar contra o que está mal, mas aceitar a boleia da experiência para construir uma vida melhor (a vida que queremos). 

"I WILL RIDE CANCER. I WILL NOT ALOUD CANCER TO RIDE ME". (Ananda)

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

De encontro àquilo em que já acredito há muito tempo, vou transcrever a experiência da Louise Hay, que defende que os pensamentos e as palavras que utilizamos repetidamente criam a nossa realidade, para o bem e para o mal. Os portugueses deviam todos conhecer esta senhora, porque todos os dias confirmam as desgraças que andam a profetizar. Este filme é fantástico: http://www.youtube.com/watch?v=EqadE2-qtcI. Foi-me útil nalgumas noites, na minha cama, acompanhada de alguns fantasmas que tão bem cumpriam o seu trabalho de me assustar. Mas como quem manda em mim ainda sou eu...

A afirmação que mais utilizei quando senti medo foi "eu sou amor", não por conselho da Louise, mas por intuição. O medo foi-se dissipando e a minha força intensificando. "O poder está sempre aqui e agora nas nossas mentes. Não importa há quanto tempo temos padrões mentais negativos, doenças, relações terríveis, problemas financeiros ou falta de auto-estima; podemos começar a mudar hoje mesmo." (L.H.)

Hoje tenho uma afirmação para remover da minha cabeça. Tenho a mania de dizer que certa coisa me "põe doente" ou que "fico doente" com determinadas situações. Ah e tal "é maneira de dizer...". Pois, não é só maneira de dizer. Acontece! Mas há-de haver outra forma de lidar com a realidade de que não gosto sem ser a ficar doente! E portanto, quando me vem ao pensamento "fico doente com isto", substituo logo por "não gosto disto, mas não preciso de ficar doente, porque tudo se vai resolver, no tempo certo". Que coisas vos põem doentes (uma maneira de dizer)?

Testemunho da Louise Hay:

EU SEI que o mal-estar (dis-ease) pode ser curado através de uma simples transformação de padrões mentais. Há vários anos, foi-me diagnosticado um cancro vaginal. Tendo em conta que eu fui violada aos cinco anos de idade e maltratada durante toda a minha infância, não era de surpreender que eu tivesse manifestado um cancro na vagina. Nessa altura, eu já ensinava a cura há vários anos e tinha plena consciência de que me estava a ser dada uma oportunidade de pôr em prática em mim mesma e demonstrar aquilo que ensinava aos outros. 

Como qualquer pessoa a quem é diagnosticado um cancro, entrei em pânico. No entanto, sabia que a cura mental funcionava. Tendo consciência de que o cancro resulta de um padrão profundo de ressentimento, ao qual a pessoa se apega durante muito tempo até ele começar literalmente a devorar o corpo, sabia que tinha muito trabalho a fazer, a nível mental. Percebi que, se fizesse uma operação para remover o cancro, mas não me libertasse do padrão mental que lhe dera origem, os médicos iriam continuar a cortar bocados da Louise até não sobrar Louise nenhuma! Mas se fizesse a operação e me libertasse do padrão mental que dera origem ao cancro, este não voltaria a manifestar-se. Quando o cancro, ou qualquer outra doença, se manifesta repetidamente, não acredito que seja por o médico não ter "tirado tudo", mas por o paciente não ter feito as transformações mentais necessárias e, por isso, continuar a recriar a mesma doença. Também sabia que, se me conseguisse libertar do padrão mental que dera origem à condição a que chamamos cancro, eu não precisaria de um médico. Por isso, tentei ganhar tempo. O médico concedeu-me, de mau grado, três meses, avisando-me que qualquer atraso no início do tratamento poderia pôr em risco a minha vida. 

Comecei imediatamente a trabalhar com o meu professor a fim de me libertar dos velhos padrões de ressentimentos. Até então, eu nunca tinha admitido que tinha ressentimentos tão profundos. É frequente não reconhecermos os nossos próprios padrões. Precisava de fazer muito trabalho de perdão. Outra coisa que fiz foi consultar um nutricionista e desintoxicar completamente o meu corpo. Com esta cura mental e física, consegui, em seis meses, fazer com que os médicos admitissem aquilo que eu já sabia: eu já não tinha cancro. Ainda tenho comigo os resultados das análises que revelaram o cancro, para não me esquecer de quão negativamente criativa eu podia ser. 

Hoje em dia, por muito difícil que pareça ser a situação de uma pessoa, EU SEI que se ela estiver DISPOSTA a fazer o trabalho mental  necessário de libertação e de perdão, quase tudo pode ser curado. A palavra "incurável", que é tão assustadora para tantas pessoas, significa apenas que um certo mal-estar em particular não pode ser curado por meios "exteriores", sendo necessário IR ATÉ AO INTERIOR de si próprio para levar a cabo a cura. O mal-estar veio do nada e ao nada regressará.

in "Saúde de A a Z"

quarta-feira, 18 de setembro de 2013


De que serve ter formação e vender os nossos serviços aos outros se depois não aplicamos esses conhecimentos em nós, quando mais precisamos? Com formação de Mat e Reformer da Stott Pilates, chegou a hora de ser aluna da professora.

Depois da 3ª quimioterapia, fiquei com uma dormência da cintura para baixo, com maior incidência dos joelhos até aos pés, em especial o pé esquerdo. Andar passou a ser um desafio. "A neurotoxicidade ocorre quando a exposição a substâncias tóxicas naturais ou artificiais, chamadas neurotoxinas, altera a atividade normal do sistema nervoso de tal forma que causa danos ao tecido nervoso." E assim foi com os fármacos do 3º ciclo. Depois de tentar tratamento medicamentoso para a neuropatia durante cerca de duas semanas, disse à Dra. F. que preferia interrompê-lo porque representava mais uma carga para o sistema - fármacos antiepiléticos - e, em vez disso, investir na mobilidade e no movimento para recuperar as funções comprometidas. Durante todo o processo evitei toda a medicação complementar: analgésicos (exceto quando a dor era muita - já sei como é a moca da morfina), ansiolíticos, tranquilizantes para dormir e laxantes, para poupar o fígado que já tinha muito trabalho com a quimioterapia e por isso mandei para trás os antiepiléticos também. 

Fiz duas sessões de fisioterapia na cama do hospital, captei o essencial da intervenção do terapeuta e, assim que tive alta, comecei o trabalho de casa. Caminhadas que começaram por ser de 5 minutos e foram aumentando gradualmente - não há dor que não passe sem doer - e método Pilates. 

Com o Pilates, incidi especialmente em exercícios de mobilidade (os próprios exercícios de aquecimento e mobilidade eram sentidos pelos meus músculos como exercícios de força e alongamento, não o sendo, porque, depois de tanto tempo acamada e de perder massa muscular de uma forma que me fez desconhecer o meu próprio corpo, a gravidade levou a melhor). Seguiram-se alguns exercícios de força e resistência (utilizando principalmente a flexband - fita elástica) para que as articulações deixassem de fazer o trabalho que compete aos músculos. E acrescentei exercícios também de alongamento para que o corpo voltasse a respirar. Tudo acompanhado de muita respiração para que a energia fluísse e as sinapses retomassem o seu ritmo. Mobilidade, força, alongamento e respiração. Ah e intuição. Ouvir o corpo à medida de cada movimento e respeitar a capacidade de resposta do mesmo. Se fosse preciso insistir 15 minutos só na respiração, transformava o Pilates em meditação, por isso não delineei um programa específico. Cada dia era um dia, embora houvesse sempre exercícios base que repetia. 

Muito importante para a reabilitação é retomar as rotinas diárias. Metade da massa muscular que perdi voltou com o voltar a mexer e a solicitar os músculos adormecidos. Era muito difícil a tarefa de subir e descer (principalmente descer) um lance de escadas (sem corrimão, seria impossível!), mas é importante fazê-lo em vez de usar o elevador, porque no dia seguinte custa sempre menos. 

Junho e Julho foram os meses de progressão mais rápida. Agosto e Setembro foram meses de férias e vida boa, a bonança depois da tempestade. Está na hora de retomar o treino. Já comecei, como podem ver na fotografia! ;)

Um agradecimento especial à ARTE MOVE, Academia de Artes, em Cascais, onde também podem praticar Pilates. 


15.09.2013

terça-feira, 17 de setembro de 2013


Antes de ser carequinha, o cabelo fazia parte da Rita; nem a Rita existiria sem ele, não como eu a conhecia. Lembro-me de pelo menos três pessoas durante a minha vida que referiram o meu cabelo como parte fundamental da Rita-mulher, sem o qual não seria tão atraente. Claro que não o diriam se algum dia sonhassem que ia ficar sem ele. E claro que foi assim que interpretei as suas palavras que já nem me lembro quais foram. Foi assim que as senti. No fundo era assim que sentia. Não há cabelo sem rita nem rita sem cabelo! Temos ideia da nossa beleza física pelo feedback que vamos tendo da parte dos outros, até porque a beleza está mesmo nos olhos do observador. Quando o observador aparece no espelho, habitua-se a uma certa ideia de beleza... e a rita-observadora considerava o cabelo da rita-observada o maior trunfo da sua beleza. O cabelo e as pestanas, logo, cabelos!

Quando me levaram o cabelo, na casa-de-banho da enfermaria do piso de hematologia, nem pestanejei (ainda tinha pestanas, que caíram umas semanas depois)! Era assim que tinha de ser e tinha mais com que me preocupar, como por exemplo sobreviver à primeira sessão de quimioterapia, que me destruiu as mucosas do princípio ao fim do sistema digestivo e me deixou sem comer nem beber, de fraldas e completamente dependente. Só quando saí do hibernamento, 5 meses depois, e voltei à vida real é que comecei a ter saudades do cabelo, mas já numa fase em que a careca já fazia parte e havia muito mais para celebrar.

Isto para dizer que, na vida real, voltei a recuperar a minha preocupação com a aparência e a querer sentir-me feminina e atraente. O cabelo passou a ser encarado como um acessório, como uma mala, uns sapatos, uma pulseira, uns brincos. Pode enriquecer a minha imagem mas não é imprescindível. Se gosto de me ver careca? Não. Se quero voltar a ter cabelo comprido ou meio comprido? Sim, mas a rita-mulher não depende disso. Não é preciso, com tantos truques e formas de redescobrir os nossos pontos fortes. Há sempre a criatividade. Ainda assim, aguardo com expectativa o crescimento do bebé capilar, com direito a todas as suas fases. Acredito que já gatinhou e começa agora a dar os primeiros passos...


A Cláudia Sofia Vieira é ex-carequinha e fez este livro infantil "A Fada Íris". Como eu considero que muitos dos livros infantis deviam ser lidos por adultos, deixo aqui esta página! 

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Este vídeo faz três meses daqui a três dias, foi gravado uma semana depois da minha última quimioterapia e representa o meu grito de ipiranga! Não cumpri o protocolo completo de tratamentos por opção minha, por considerar que o tratamento agressivo não deve ser feito a qualquer custo e, neste ponto, percebi que já tinha as minhas contas em dia. Escolhas. Um dia explico. O que interessa hoje é recordar que a paixão move montanhas de células saudáveis, viver e sentir o agora cura e agir pela vida faz-nos continuar a viver. Se um dia voltarei a dançar como antes? O que é que isso interessa? Será sempre diferente, porque eu também estou diferente...

domingo, 15 de setembro de 2013

Nos hospitais públicos, não há quartos particulares. Temos de levar com os ais e os uis dos outros, como se não bastassem os nossos! Ainda levamos com a neura de um ou a boa disposição inusitada ou ainda o humor duvidoso de outros... Se isto (de estar doente) é uma treta, é uma treta! Ser inteligente, ter capacidade de adaptação e tirar partido do melhor das situações é muito giro, mas não tira a treta do filme! Por que não me dão um quartito para curtir a desgraça sozinha? Ah, é a crise!

Não. Errado. Está tudo pensado! Se estivesse sozinha num quarto, não teria conhecido um mundo de possibilidades com o mesmo nome: linfoma. Não teria percebido que cada história é uma história e que não há como comparar, mas apenas partilhar, inspirar e ser inspirado. Entrar em comparações é quase faltar ao respeito que merece a individualidade de cada um, no seu caminho, no seu processo. Em contrapartida, se estivesse sozinha num quarto, não me tinha apercebido de muitas das regras do jogo. Os médicos, a medicação, dizer que sim, dizer que não, enfermeiros, auxiliares, senhoras da limpeza, ter direitos e exigi-los, desconfiar, confiar, comparar (sim, comparar!), decidir, ouvir, conversar... Há regras, umas mais explícitas e outras mais implícitas, e tornam-se mais claras com termos de comparação. Portanto, não entremos em comparações mas não percamos as referências. São orientadoras. E se estivesse sozinha num quarto, não teria convivido com as linfobabes, todas diferentes na igualdade e às vezes iguais na diferença. 

Sim, temos amigos maravilhosos, mas quem entende melhor o nosso ui, quem afina melhor no coro de ais e quem nos dá a mão ou às vezes o empurrão de que necessitamos, com maior legitimidade? As linfobabes! Somos três, porque é a conta que Deus fez e convém estar perto Dele nestas horas. É que a linfoteam cansa-se muito depressa, não faz horas extra nem está para conveniências! Também precisa de mais folgas e dias de férias porque há uma vida para lá do trabalho de estar doente. E quem mais entende a rebeldia e o chuto nas regras que com todo o direito por vezes quebramos - o direito de nos cansarmos deste jogo? Batotas à parte, queremos todas o mesmo: liberdade! Liberdade para dentro da cabeça, como diz a música, mas também para dentro das nossas veias, das nossas pernas, das nossas vísceras, das nossas ancas (sacode, sacode, Dani!), do nosso coração que às vezes fica apertadito de preocupação (não é, Sarocas?), do nosso espírito... A linfoteam não quer saber da crise, quer saber da vida! E já sabe um bocadinho mais porque "o que não nos mata torna-nos mais fortes"! Ó pá, o povo diz com cada coisa! Eu tenho para mim que, se não morremos, é porque afinal somos é bué da fortes, pá! E estamos aqui para as curvas! Não passamos é dos 50km/h, que é por causa das tosses... 

(to be continued...)




sábado, 14 de setembro de 2013

Nos tempos difíceis, há como que um update das amizades, uma arrumação da gaveta dos laços e um ressuscitar de ligações perdidas. Há aqueles que se aproximam numa identificação com o mundo dos aflitos e os que se afastam com medo que a aflição se pegue. Tudo se restrutura naturalmente (ou não tão naturalmente, dadas as circunstâncias). No final, tudo volta à normalidade: há aflitos que se desafligem e desaparecem do mapa, há outros que tratam de permanecer – não vá o Diabo continuar a tecê-las – e os outros que não entram nesta categoria porque estão sempre lá, na saúde e na doença. Todos são importantes, mas mais importante é acordarem o seu lado amoroso e que este se sobreponha ao medroso: que a aproximação seja mais um ato de amor do que um ato de medo (neste caso, da perda).

Com a família acontece o mesmo! De repente, avaliam-se prioridades e os laços de sangue ganham mais importância do que egos e umbigos de costas viradas. Não só ganhei mais família como a família também ganhou mais família. Quando se reúnem, todos se lembram de como são importantes uns para os outros. E se a união faz a força, a re-união re-força-nos e torna-se maior do que a soma de cada parte que andava metida na sua vida. Desconfio de que cada um volte à sua vida, mas ganhamos mais uns dias de celebração dessa mesma vida pelo caminho. Juntos.
Da minha parte, entre família de sangue e família de amigos, já tinha dito que representavam gotinhas de amor nas minhas veias (quando é de amor que se trata)!


Tchim tchim! À nossa!

sexta-feira, 13 de setembro de 2013


Com tanta expectativa no 2012, deixei o 2013 chegar qual bomba sem aviso, deixando-me qual McGyver com dois fios, um vermelho e um branco para escolher, sem saber qual dos dois cortar para não ir pelos ares. 

"(...) O número 13 sempre teve um significado especial, nas mais diferentes civilizações. Mas, para compreender este número, temos que entender antes o significado do número 12. Muitos mitos, deidades e heróis aparecem na quantidade de 12 (12 profetas, 12 sábios, as 12 tribos de Israel, os 12 signos do zodíaco, as 12 horas, 12 = uma dúzia). 12 encerra um sistema completo, coeso e perfeito. O 12 passa a ideia de segurança, de algo que está estruturado, perfeito e inviolável. 13, então, significa a ruptura de tudo isso, a transformação (destruição). Após essa mudança, é possível continuar a evolução. (...)"

"(...) O 13 é a lição do desapego. Em termos práticos, na numerologia, o 13 é utilizado no sentido de transformação, ou seja, mudar aquilo que está estagnado e que precisa de uma solução proveitosa, reciclando as energias paradas há tempos. A palavra de ordem do 13 é "rei morto, rei posto", portanto ele pede que você não fique olhando para o passado, nem se lamente por ele. Não tenha medo de ser feliz. Aproveite a onda de mudança que ele proporciona em seu benefício, rumo a uma nova terra fértil e a um novo estilo de vida, melhor e mais feliz para todos nós. (...)"

Portanto, para quem 2013 tenha trazido um evento ou mudança aparentemente azarada, fiquem sabendo que no tarot a carta XIII é "A Morte" e simbolicamente representa exactamente a transformação, a transmutação, o renascimento, a renovação. Claro que para isso acontecer algo tem de acabar, morrer. Novos tempos. Espero em 2014 "a Temperança", o equilíbrio, a harmonia, a bonança depois da tempestade. Sic transit gloria mundi...

Ah, e amanhã é dia 14! A sexta-feira 13 já foi! Hoje consegui que uma torradeira fizesse pfiuuuuuuuuu quase sem lhe tocar. Ou ainda estou radioactiva ou a dita estava mesmo à espera do 13 para queimar os últimos cartuchos!

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Um ano em Cabo Verde, meio ano no hospital e agora toca a recuperar, também e sobretudo, laços. E não há quem me toque que não seja tocado mas sobretudo não há quem se cruze neste meu caminho que não me acrescente um ponto fundamental no processo, porque tudo pode ser curAção, desde que ponha alma e coração em tudo o que faço. E intenção. A intenção é tudo. E não há curAção sem o dedo de uma criança - ou várias - e, primeiro, as minhas!

Estas fotografias são da semana que passei com estes meus primos (e afilhado) de palmo e meio, o Gonçalo, 11 anos (este já com dois palmos!), e a Joana, 6 anos, na primeira semana de Agosto. E como disse Picasso: Todas as crianças são artistas. O problema é como permanecer um artista quando você crescer.” Por isso há que manter-me próxima dos mestrinhos maiores enquanto são menores para não me esquecer da criança em mim. Desenhámos, dançámos, escrevemos, fotografamos... E logo haverá mais! 



Joaninha em experiências laboratoriais no jardim

Árvore de Natal do Gonçalo, com motivos naturais

Joana e Rita em curAção

Rita em construção

Preparando dança para a família

Onde o Mira encontra o Mar...

Gonçalo e o seu anjo curador :)

Pinturas faciais
Nosso desenho final, em giz e elementos do jardim... Temos vida, natureza, amor, anjos, natal, água, terra, fogo, ar... cura em ação!


quarta-feira, 11 de setembro de 2013


E porque aqui a cronologia não tem relevância, vou recordar as Festas do Mar '13, o dia em que estive presente para vibrar com o Craig David e viajar dez anos no tempo (16.08.13)! Já ele dizia no concerto que esta música teve impacto na vida de muitas pessoas, mas o mais curioso é a forma como a ouvia em 2003 e a forma como a ouvi agora em 2013. As palavras são as mesmas mas cruzam-se com diferentes conteúdos da minha vida, com a semelhança de eu continuar a ser eu e da vida se manifestar em ciclos que dão a volta e tocam o mesmo, que nunca é o mesmo, como se vê! 

Em 2003 estava em Barcelona, como Erasmus, na Facultat de Psicologia da Universitat de Barcelona, e a dançar na Urban Dance School. O Craig David acompanhou-me tantas noites no caminho da escola de dança para casa. Parte da minha vida em Portugal em stand by, aguardando ou não o meu regresso. Dez anos depois, volto de uma estadia de um ano em Cabo Verde, volta essa precipitada por motivo de doença - ou saúde. Parte da minha vida lá, em stand by, aguardando ou não o meu regresso. Ou foi o stand by deixado cá em Portugal que me trouxe de volta?

Claro que a vida não pára e o stand by é tão só a imagem que escolhi para tudo o que deixamos pendente e não resolvemos, mesmo quando achamos que sim, sabendo que não. I'm walking away from troubles in my life... cantou o Craig à nossa frente, para me recordar de que sometimes in life you feel the fight is over, mas it's what they call, the rise and fall... O que será que estas palavras me dirão daqui a outros dez anos?


1. Primeira parte com Mia Rose

2. Um frrrrioo! Só a música para aquecer!

3. E temos mais dez anos em cima...!

4. Eu e a D. muito atentas...

5. No final...

6. Team friorentoooo

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Dedicado à minha amiga D. que esta semana está "hospedada" no IPO, porque as noites às vezes são maiores do que os dias...



NOITE
(Julho 2013)

Na noite de ti, tudo vale. É o vale tudo da lua pela metade.

Metade escondida, metade perdida. Tenho medo, quando de dia sou coragem. Tenho coragem, quando de dia sou medo. É o terror do dia em suspenso.

Conta-me histórias em sonhos sem fim. Perseguem-me fantasmas, sombras de mim. Na noite calada, há gritos aflitos. A calada da noite é a tagarela dos mitos.

Conta-me a verdade do que sinto, mas despacha-te! Não te alongues em palavras mal-amadas.

Leva-me ao baile sem máscaras, mas despacha-te! E não me deixes sem par, a divagar.

Ah, não adormeças primeiro e sem canção de embalar!

Conselheira do dia, sabes tudo sem tudo saber, podes tudo sem tudo poder, queres tudo sem tudo querer, vences tudo sem contudo convencer!


Não sais do corpo, mas o corpo sai de si. Fico fora de mim. Vem buscar-me e devolve-me ao dia. Amanhã já é hoje. E hoje é outro dia. 

segunda-feira, 9 de setembro de 2013




Este post é inspirado no livro "A Rapariga das 9 Perucas", de Sophie van der Stap. Sophie tinha 20 anos quando encontrou nas perucas uma forma de explorar diversas facetas suas, partes do que era e, melhor, do que poderia ser. O cancro, o não se rever na Sophie-careca, levou-a descobrir-se desta forma e a sair do processo muito mais enriquecida e crescida. O desapego em relação à Rita como sempre a vi também pode ser muito divertido! Se é para ser assim, como eu disse várias vezes, que seja "em gira"! Em que outra altura da minha vida me atreveria a desapegar da imagem que tinha de mim?

domingo, 8 de setembro de 2013

Bom, hoje é só copy paste para não estragar a mensagem da mestrinha Bruna, do alto dos seus 13 anos!

Vejo tanta gente reclamando que ta ruim! Reclamam do cabelo, do corpo, da comida, do dinheiro, da vida, DE TUDO!
E mesmo se estiver bom, a pessoa reclama ou, se não, nem agradece a Deus. Enquanto tem gente que não tem o que comer, o que vestir, uma casa pra morar...

Acho que as pessoas deviam parar de reclamar tanto da vida e aprender a viver, deixar as coisas bobas de lado, de preocupar com coisas tolas
.
Tipo os adolescentes de hoje, além de não pararem de reclamar, não se dão valor, preocupam com coisas idiotas, eu sou uma adolescente mas aprendi a enxergar a vida com outros olhos, eu aprendi a viver, a dar valor à vida. Hoje eu sei viver!
As vezes me acho muito mais madura que muita ''gente velha'' por aí... Por que tem gente que lê, vê de perto as coisas que eu passo e não acorda para a vida.A vida teve que me sacudir para eu acordar, e tem gente que eu acho que seria só assim mesmo! (Não desejo câncer para ninguém!)
Hoje falta humildade, reflexão, reclamamos tanto, tem gente que reclama tanto mas não para nem pra ajudar alguém!

Mas as vezes até eu mesmo reclamo, e eu peço a Deus que pare, porque comigo esta tudo dando certo, ja, tem pessoas que estão (ou estavam) na mesma luta que eu e não estão dando (ou deram) conta de tudo, e também eu tenho uma casa, comida, roupa... tudo o que eu preciso, eu tenho!

PARE DE RECLAMAR! Enquanto você esta aí reclamando da vida, eu estou aqui, agradecendo a Deus por estar viva!


Bruna G.

sábado, 7 de setembro de 2013


Há histórias e histórias com o mesmo nome. Todas diferentes. Todas. Diferentes.

Ressalva feita, venho falar do período pré-curação, no período de hibernamento de 6 meses em que a ação se limitava ao zapping... Pouca energia para falar ao telemóvel, ver um filme, ler um livro, escrever, ouvir música... Depois de um ano em Cabo Verde sem televisão, metade de 2013 só teve televisão. Todos os programas da "treta" são programas que se propõem "entreter" e há de facto situações em que o entretenimento tem um papel fundamental, principalmente na fase receptiva do processo (em oposição à fase activa em que me encontro agora). Todas as ações que vou publicando estão relacionadas com a fase activa, mas esta é possível porque lhe precedeu uma fase passiva/receptiva. Sim, por mais que todos gritem para sermos fortes e que a força esteja muitas vezes associada a determinados comportamentos mais pró-activos, devemos permitir-nos à receptividade e à passividade. Enquanto isso, o corpo está em trabalhos e agradece. E o trabalho das tropas da cura é mais que muito. 

O programa de entretenimento que me fez rir às gargalhadas sozinha em plena enfermaria, com os meus colegas de quarto já a dormir, foi o "Vale Tudo" da SIC e estes dois meninos da foto abaixo foram os principais responsáveis. E rir continua a ser um grande remédio. Acontece que não me rio com qualquer programa ou filme escolhido para rir. 

Graças ao H. e à A., no fim-de-semana que seguiu o meu último internamento, o primeiro em casa, mesmo na ressaca da quimio, fui aos estúdios da Valentim de Carvalho assistir ao último programa, devidamente disfarçada. E dizia a A.: "Vê lá se fazes ar de doente, senão ninguém acredita!" Só eu sei. E só eu sei, nesse dia, porque não fiquei em casa! 



12 de Maio de 2013

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A vida é muito rápida. Vários dias ganhariam a medalha de ouro dos 100m e às vezes temos mesmo verdadeiras olimpíadas pela frente! Mas a vida às vezes também está mais para caracol porque já leva muito peso às costas. Arrasta-se e parece que nunca mais lá chega. Não sei se foi a vida que fugiu se fui eu que não acompanhei o passo. Não sei se fui eu que fugi e deixei a vida para trás. Pois é, o tempo é sempre o mesmo, mas a nossa percepção muda de tempos a tempos. É conforme. Na dor, tudo dura. Mas ainda assim, tudo passa. Quando dás por ti, já nem parece que foi ontem. "Estou pronta para outra!" Não, não estou. Ai isso é que não estou!

A realidade de um hospital não é real, é surreal, é para lá do real. De repente, mudámos de planeta, de plano, de vida. O sofrimento não é a vida real mas há meio mundo que age como se fosse. Não é. É para lá do real, é um teatro da verdade que faz de conta nas horas vagas, porque se cansa de esconde-esconde. E a vida esconde-se enquanto isso. Um dia acordamos, encontramo-la escondida, corremos para o coito e "1, 2, 3..."

Na sala de espera, fui paciente, impaciente e hoje pró-paciente, porque hoje fui apenas acompanhar a minha amiga às urgências e cumprimentar o pessoal que trabalha naquele lugar, cheio de actores e figurantes da dor e do amor, que ali andam de mãos dadas. Pois, ali só vale a pena entrar se se tiver uma mão para dar e outra para receber. Se não for o caso, é barrado à entrada, com direito a cancelas e tudo! E então lá fui de mão dada com a D., com a distância de quem já não faz parte daquele filme e com a proximidade de quem já fez.

Paciência é a ciência do doente. "Ai dói? Paciência!" E assim é enquanto se espera... Não sei se ganhei ou perdi em paciência, mas ganhei em ciência. E posso dizer que estou ciente disso e muito mais.

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